Sair do distrito será coisa de ricos

micael_copy.jpgEm 2005, já como primeiro-ministro, Sócrates entusiasmou a audiência albicastrense no comício de abertura oficial da campanha do PS, contestando as declarações de Durão Barroso, que enquanto primeiro-ministro, afirmara que “em princípio” não haveria portagens na A23, prometendo:

“Não vai haver portagens [na A23]. Não é nenhum favor, trata-se de fazer justiça ao interior do país"e que com o PS “o desenvolvimento do interior voltará à agenda política governativa”.

Palavras, leva-as o vento.

Opinião de Micael Cardoso Marçal

Onde está agora a justiça e o desenvolvimento do interior do país?

Deverá estar algures numa gaveta. Existem agora outras prioridades para o nosso governo. O medo dos mercados financeiros subjugou a justiça e o desenvolvimento do interior do país, bem como ameaça seriamente o próprio Estado Social. No interior não temos metro, nem transporte público de qualidade. Não se pode planear uma zona do país com base no veículo pessoal (construção de troços da auto-estrada sobre as estradas IP2 e IP6 ou inexistência de via-férrea em algumas localidades), e depois obrigá-la a pagar portagens para poder circular nas vias quando não existem alternativas.

Como é sabido, a 15 de Outubro entrou em vigor, o funcionamento das portagens em muitas das auto-estradas do país. A nós, só nos irá afectar a partir de meados de Abril do próximo ano, altura em que já estarão também (seguramente) aplicadas as medidas do PEC III. Se fizermos as contas e tomarmos o critério do governo na aplicação dos oito cêntimos por quilómetro como na A17 e A29, a simples viagem de Castelo Branco a Lisboa ficará por volta dos 37€ (ida e volta) só em portagens. Somando o custo elevado do combustível, ficará praticamente luxuoso e insuportável ir de carro ate à capital.

Em 2011 ouvir-se-á certamente o seguinte diálogo:

- “Para onde vamos este fim-de-semana”?

- “Para nenhures! Porque sair do concelho é coisa de ricos.”

Consciencializem-se.

 

P.S. Seria ao menos de esperar que as assembleias municipais do distrito fossem afirmar publicamente e manifestar ao governo a sua rejeição da introdução de portagens na A23, mas não. Nada aconteceu. Bem pelo contrário. Votaram contra a moção que apresentava uma maior justiça ao interior.